Dicionário Niilista - John Zerzan

Comunidade

Co-mu-ni-da-de – s. 1. um corpo de pessoas com os mesmos interesses. 2. [Ecol.] um agregado de organismos com relações de mutualismo. 3. um conceito invocado para estabelecer solidariedade, geralmente quando a base para tal afiliação está ausente ou quando o conteúdo atual dessa afiliação contradiz o objetivo político da solidariedade.

Comunidade, palavra que obviamente significa mas que, digamos, vizinhança, é um termo muito enganoso mas um critério contínuo de valor radical. De fato, todos os tipos de pessoas recorrem a ele, de acampamentos pacifistas próximos de áreas de testes nucleares até esquerdistas do tipo “servir ao povo” com seu direcionamento de sacrifício-e-manipulação aos colonizadores africanos proto-fascistas. É invocado por uma variedade de propósitos e objetivos, mas como uma noção libertadora é uma ficção. Todos sentem a falta da comunidade, porque a irmandade humana deve lutar, até para remotamente existir, contra o que a “comunidade” é na realidade. A família nuclear, a religião, a nacionalidade, o trabalho, a escola, a propriedade, a especialidade de papéis – algumas combinações dessas ciosas parecem comprometer toda comunidade sobrevivente desde a imposição da civilização. Então estamos lidando com uma ilusão, e argumentar que alguma forma qualitativamente superior de comunidade é permitida dentro da civilização é afirmar a civilização. A positividade promove a mentira de que o autenticamente social pode co-existir com a domesticação. A respeito disso, o que realmente acompanha a dominação, como comunidade, é no máximo o protesto de classe-média de “respeite o sistema”.

Fifth Estate, por exemplo, recorta sua crítica (parcial) da civilização sustentando a comunidade e amarrando ela em cada uma de suas outras sentenças. Às vezes parece que um ocasional filme de Hollywood (e.g. Emerald forest, Dança com lobos) ultrapassa nossos jornais anti-autoritários mostrando que a solidariedade surge da não-civilização e seu combate com a “comunidade” da modernidade industrial.

Jacques Camatte discutiu o movimento do capital de um estágio de dominação formal para um de dominação real. Mas a parece haver terrenos significantes onde projetar a erosão contínua do apoio para a comunidade existente e o desejo genuíno de solidariedade e liberdade. Como Fredy Perlman colocou, próximo do fim do seu excepcional Against His-Story, Against Leviathan!: “O que se sabe é que o Leviatã, o grande artífice, simples e global pela primeira vez, na Sua-estória, está decompondo-se... É uma boa hora para as pessoas deixarem sua sanidade, suas máscaras e armaduras, e ficarem loucas, pois elas já estão sendo ejetadas de suas belas polis”.

A recusa da comunidade pode ser considerada um isolamento auto-destrutivo, mas parece preferível, mais saudável, do que declarar nossa submissão à fabrica diária de um crescente mundo auto-destrutivo. Alienação aumentada não é uma condição escolhida por aqueles que insistem no verdadeiramente social sobre o falsamente comunal. Está presente em qualquer caso, pelo conteúdo da comunidade. Oposição ao estranhamento da existência civilizada, pacificada, deve pelo menos chegar a nomear este estranhamento ao invés de celebrá-lo chamando-o de comunidade.

A defesa da comunidade é um gesto conservador que se afasta da ruptura radical necessária. Por que defender aquilo para o qual somos reféns? Na verdade, não há comunidade. E só abandonando aquilo que é passado com este nome podemos nos mover para resgatar a visão da comunidade e a vibrante conectividade num mundo que não carrega nenhuma semelhança com este. Só uma “comunidade” negativa, baseada explicitamente no desprezo pelas categorias da comunidade existente, é legítima e apropriada para nossas intenções.




Cultura

Cul-tu-ra. Geralmente interpretada como a soma dos costumes, idéias, artes, padrões etc. de uma determinada sociedade.  A civilização frequentemente é tida como um sinônimo da cultura, nos lembrando que o cultivo - como na domesticação - também estão inclusos. Os situacionistas, em 1960, consideravam que "a cultura pode ser definida como o conjunto de significados pelos quais a sociedade pensa de si mesma, e se mostra a si mesma". Tomando entusiasticamente, Bartnes observou que a cultura é "uma maquina de mostrar a você o desejo. Desejar, sempre desejar, mas nunca entender”.

A cultura já foi mais respeitada, aparentemente, algo "pelo qual viver". Agora, ao invés de nos referimos em como deterioramos a cultura, a ênfase é em como a cultura tem nos deteriorado. Definitivamente algo trabalhando e que nos bloqueia, não satisfaz e se faz mais evidente enquanto nos deparamos globalmente e dentro nós a morte da natureza. A cultura, ao contrário da natureza, cresce desordenadamente, amarga, e se esvai enquanto nos sufocamos num ar cada vez mais rarefeito da atividade simbólica. A cultura, mais ou menos desenvolvida, é a mesma prisão de consciência, o simbólico como agente repressivo.

A cultura é inseparável do nascimento e da continuidade da alienação, sobrevivendo, como sempre, como uma compensação, uma troca do real pela sua coisificação. A cultura incorpora a divisão entre a totalidade e partes do todo, se transformando em dominação. Tempo, linguagem, número, arte cultural, são imposições com vida própria que tem nos dominado.

As revistas e os jornais agora estão repletos com artigos lamentando a propagação da ignorância cultural e da amnésia histórica, duas condições que definem uma doença básica na sociedade. Em nossa época pós-modernista, a moda varia de um dia para o outro, assim como continuam a crescer o uso de drogas pesadas, o suicídio e desequilíbrio emocional. Há um ano atrás peguei uma carona de Berkley para Oregon com uma estudante do último período da Universidade da Califórnia, e em algum lugar ao longo da estrada pedi, depois de conversar sobre a década de 60, entre outras coisas, para ela descrever sua própria geração. Ela falou de seus colegas em termos como sexo sem amor, uso de heroína, de "uma sensação de desespero mascarado pelo consumismo”.

Enquanto isso, a negação em massa continua. Em uma recente coletânea de ensaios sobre a cultura, DJ. Enright oferece o sábio conselho que diz que "quanto mais comumente a miséria e o descontentamento pessoal são manifestados, mais elas têm domínio sobre nós”.Desde que a ansiedade tem buscado o refúgio através da forma cultural e da expressão, na abordagem simbólica da autenticidade, nossa condição provavelmente não tem sido essa falência tão explícita. Em "Deliberate Regression" (Regressão Deliberada) de Robert Harbison é outro trabalho que mostra a total ignorância a respeito do vazio fundamental da cultura: "a história de como o entusiasmo pelo primitivo e a crença de que a salvação está em uma desaprendizagem, acaba por ser uma força em quase todos os campos do pensamento.”

Certamente as ruínas estão aí para todos verem. Da arte esgotada na forma da "gororoba" reciclada do pós-modernismo, aos tecnocratas pós-estruturalistas como Lyortad, que acham em bancos de dados "a Enciclopédia do amanhã... a 'natureza' para o homem pós-moderno", incluindo formas impotentes pronunciadas de "oposição" como "micropolíticos" e "esquizopolíticas", é que estão pequenos porém obvios sintomas de uma fragmentação e desespero geral. Peter Sloterdiijk (Crítica da Razão Cínica) aponta que o cinismo é o fundamental, o ponto de vista difundido, que atualmente é o  melhor que a negação tem a oferecer.

Mas o mito da cultura irá conseguir sobreviver enquanto nosso sofrimento fracassar em nos forçar a confrontá-la, e o cinismo também existirá enquanto permitirmos a cultura existir no lugar da vida não mediada.


Divisão de trabalho
Di-vi-são de tra-ba-lho. 1. Especificamente o colapso. 2.A fragmentação ou redução da atividade humana em trabalhos separados que é a prática raiz da alienação; especialização básica que faz a civilização surgir e desenvolver.

 A relativa plenitude da vida pré-civilizada foi primeiramente e principalmente uma ausência de limitações, reduzindo a separação de pessoas em papéis e funções diferenciadas. A fundação de nossa redução e potencialidades sentidas tão acuadas hoje, face ao reino da esperteza, é a divizão de trabalho. Não é casual que os ideólogos chaves da civilização tem se empenhado fortemente em  justificá-la . Em "A Republica" de Platão, por exemplo, somos ensinados que a origem do estado rezide numa "natural desigualdade humana" que esta encorporada na divisão de trabalho. Durkheim celebrou um mundo fracionado e desigual descobrindo que a pedra fundamental da "solidariedade humana" seu valor essncial é - adivinhe.
 Antes de Durkhein , de acordo com Franz Borkenau, foi o grande aumento da divisão de trabalho, ocorrido por volta de 1600 que introduziu a categoria abstrata de trabalho, a qual pode ser dita basicamente que possibilitou a aparição da,  totalmente moderna, noção cartesiana de que nossa existência física é meramente objeto de nossa consciência (abstrata).

 Na primeira afirmação de " A Riqueza das Nações" (1776) Adam Smith previu a essência da industrialização pela determinação de que a divisão de trabalho representa um aumento qualitativo na produtividade . Vinte anos depois, Schiller reconheceu que que a divisão de trabalho produziu uma sociedade na qual seus membros eram inabilitados de desenvolver sua humanidade. Marx pode ver ambos aspectos: "como um resultado da divisão de trabalho," o trabalhador é "reduzido a condição de maquina". Porém , decisivo foi a devoção de Marx pela produtividade plena como condição essencial para a libertação. A miséria humana ao longo do desenvolvimento do capitalismo Marx viu como um mal necessário.

 O marxismo não pode escapar desta marca determinante da escolha em favor da divisão de trabalho, e suas principais vozes refletem esta idéia. Lukacs, por exemplo, preferiu ignorar, observando apenas os "efeitos coisificantes da forma dominante do produto" em sua preocupação com o problema da consciência do proletariado. E.P. thompson compreendeu que com o sistema de fábricas, " o caráter estrutural do trabalhador rebelde pré-industrial ou artesão foram violentamente modificados em trabalhadores individuais submissos." Porém, dedicou, surpreendentemente, pouca atenção a divisão de trabalho, o mecanismo central pelo qual esta modificação foi realizada. Marcuse tentou conceitualizar uma civilização sem repressão, enquanto demonstrou amplamente a incompatibilidade entre ambos. Em concessão a "naturalidade" inerente a divisão do trabalho, Marcuse julgou que o " exercício racional da autoridade " e o "desenvolvimento do todo" dependem da divisão de trabalho, enquanto algumas paginas depois ( em Eros e Civilização ) diz que o "trabalho que alguem desempenha se torna mais alienado, quanto mais especializado a divisão de trabalho se torna."

 Ellul  compreendeu  como "a faca afiada da especialização passou como uma navalha na carne fresca", como a divisão de trabalho causa a ignorância  de um "universo fechado" amputando o sujeito dos demais e da natureza. De forma similar Horkheimer  rezumiu esta debilidade: "assim , por todas suas atividades individuais são feitos mais passivos, por todo seu poder sobre a natureza eles se tornam mais impotentes em relação a sociedade e a eles mesmo." Por estas linhas, Foucault enfatizou a produtividade como a principal repressão contemporânea.

 Porém, o pensamento marxista recente continua na armadilha de ter que, ultimamente, elevar a divisão de trabalho pelo bem do progresso tecnológico. Trabalho e Monopólio Capital, excelente livro de Braverman, em muitos pontos explora a degradação do trabalho, mas cosidera isto principalmente como um problema de perda da "vontade e ambição de tomar o controle da produção das mãos dos capitalistas." No livro Psychosocial consequences of Natural and Alienated Labor ( Consequências psicosociais do trabalho natural e alienado) de Shwabbe, é dedicado ao fim de toda a dominação na produção e projeta uma auto-gestão da produção. A razão, obviamente, pelo que ele ignora a divisão de trabalho é por ela ser inerente a produção; ele nao vê que é contraditório falar em libertação e produção num mesmo folego.

 A tendência da divisão de trabalho tem sempre sido o trabalho forçado da engrenagem intercambiavel em um cada vez mais autonômo aparato inabalável ao desejo. O barbarismo dos tempos modernos ainda é a escravização tecnológica, ou seja, a divisão de trabalho. "A especialização " escreveu Gideon, "caminha adiante sem trégua", e hoje, mais do que nunca, podemos sentir o mundo arido e não erótico a que isto nos levou.
 Robbinson Jeffers decidiu: "não acho que a civilização industrial vale a distorção da natureza humana, e a mesquinharia e a perda de contato com a terra que isto implica."

 Enquanto isso, o contínuo mito da "neutralidade" e "inevitabilidade" do desenvolvimento tecnológico é crucial para sujeitar todos ao julgo da divisão de trabalho. Aqueles que se opõem a dominação enquanto defendem seu núcleo principal são perpetuadores de nossa prisão. Considere Guatarri, pós-estruturalista radical, aquele que descobre que desejos e sonhos sejam possíveis  "mesmo em uma sociedade com alto desenvolvimentro industrial  e serviços de informação público altamente desenvolvidos, etc." Nosso oponente francês da alienação zomba do ingênuo que detecta a "maldade essencial das sociedades industriais", mas oferece a prescrição que " a atitude totalitária de especialistas necessita questionamento", não a existência de especialistas, claro, meramente suas "atitudes".
 
 A questão " o quanto da divisão de trabalho poderiamos rejeitar?" a resposta, acredito eu,é a pergunta: "o quanto de plenitude para nós e o planeta queremos?"

Feral
Fe-ral adj. Selvagem, ou existente em um estado natural, assim como ocorre com animais ou plantas; o que foi revertido da domesticação ao estado selvagem.

Nós existimos em uma "paisagem de ausência" na qual a vida real está sendo sistematicamente escoada pelo trabalho degradante, o falso ciclo do consumismo e das futilidades mediadas pela dependência tecnológica. Hoje em dia não é só o estereótipo do yuppie viciado em trabalho que tenta enganar seu desespero através da atividade, preferindo não contemplar um destino não menos estéril do que o do planeta e a subjetividade (domesticada) em geral. Todavia nós somos confrontados pelas ruínas da Natureza e pela ruína de nossa própria natureza, a absoluta grandeza do amontoado de insignificâncias e inautenticidade por um tanto de mentiras. Ainda é trabalho monótono e envenenamento para a vasta maioria. Enquanto uma pobreza mais absoluta que a pobreza financeira deixa mais desolada a zona morta universal da civilização. Potencializados por computadores? Mais para infantilizados. Uma era de informação caracterizada pela comunicação intensificada? Não, pelo que poderia pressupor experiências que valeriam a comunicação.
Um tempo de imprecedente respeito pelo individuo? Tradução: a escravidão assalariada necessita da estratégia do trabalhador autônomo na produção para evitar a contínua crise da produtividade, e as pesquisas de mercado devem direcionar cada "estilo de vida" ao interesse da cultura do consumidor.  
  
Nessa sociedade invertida, a solução para o massivo uso alienado e induzido de drogas é um bloqueado na mídia, com resultados tão embaraçantes quanto às centenas de milhões de gastos fúteis contra o aumento da abstenção eleitoral. (em muitos estados dos Estados Unidos o voto é facultativo). Enquanto isso a TV, que é a voz e a alma do mundo moderno, sonha em vão atrair a atenção ao crescimento da ignorância e do que restou da saúde emocional através de propagandas de trinta segundos ou menos. Na cultura industrializada de depressão irreversível, do isolamento e do cinismo, o espírito será o primeiro a morrer, e a morte do planeta será apenas uma lembrança tardia. Assim será, ao menos que apaguemos essa ordem podre, com todas as suas categorias e dinâmicas.


Enquanto isso, o desfile de oposições parciais (portanto falsas), continua pelos seus caminhos habituais. Há os Verdes (partidos de cunho ambiental) e similares que tentam prolongar a vida do eleitorado, baseados na mentira de que é válido uma pessoa poder representar outra; esses tipos poderiam perpertuar apenas mais um espaço para o protesto, ao invés de ir direto à raiz da questão. O "movimento" pacifista exibe, em cada (uniformemente patético) gesto, que ele é o melhor amigo da autoridade, da propriedade e da passividade. Só para ilustrar: em maior de 1989, no vigésimo aniversário da luta pelo Parque do Povo de Berkleya, milhares de pessoas lutaram de forma admirável, destruindo 28 estabelecimentos comerciais e ferindo 15 policiais; Julia Talley, porta-vos do movimento pacifista declarou que "essas manifestações não possuem lugar no movimento pacifista". O que traz à toana os fatais estudantes irresponsáveis na Praça Tiananmen, depois que o massacre de 3 de Junho começou, tentando impedir os trabalhadores de lutar contra as tropas do governo. E a verdade é que a universidade é a fonte número um da estrangulação lenta conhecida como reforma, a recusa do rompimento qualitativo com a degradação. O Earth First! reconhece que a domesticação é a questão fundamental (ex. de que a própria agricultura é maligna), mas muitos de seus membros não vêem que nossa espécie possa se tornar selvagem novamente.

Os ambientalistas radicais entendem que a transformação de florestas nacionais em áreas de extrativismo legalizado é meramente parte do projeto que também busca a própria eliminação dessas áreas. Mas terão que buscar o selvagem em todos os lugares, não só em áreas selvagens que são vistas como reservas isoladas.

Freud viu que não há civilização sem a renúncia forçada dos instintos, sem uma coerção monumental. Mas, devido as massas estarem basicamente "ociosas e ignorantes", a civilização é justificável segundo Freud. Este modelo ou prescrição foi baseado na idéia de que a vida antes da civilização era brutal e miserável, uma idéia que tem sido surpreendentemente invertida nos últimos 20 anos. Em outras palavras, antes da agricultura, a humanidade existiu num estado de graça, tranquilidade e em comunhão com a natureza que hoje dificilmente poderíamos compreender. A perspectiva da autenticidade surge nada menos do que a partir de uma dissolução total da estrutura repressora da civilização, da qual Freud descreveu como "algo que foi imposto a uma maioria resistente por uma minoria, que sabia como obter a posse dos meios do poder e coerção." Nós podemos ainda continuar pelo caminho da domesticação e destruição ou irmos em direção à revolta otimista, apaixonada e selvagem, que aspira em dançar sobre as ruínas de relógios, computadores, e a destruição da imaginação e vontade o qual chamamos de trabalho. Podemos justificar nossas vidas por algo menos que esta política de raiva e sonhos?




Sociedade
Sociedade. Do latim socius, Companhia. 1. Uma congregação organizada de indivíduos e grupos relacionados. 2. Aparato totalizador, avançando as custas do indivíduo, da natureza e da solidariedade humana.

A sociedade em todos os lugares esta sendo impulsionada pela rotina do trabalho e consumo. Este movimento cego e induzido, tão distante de um estado companheirismo, não toma lugar sem agonia e desafeto. O "ter mais" nunca compensa o "ser menos", como prova o aumento do vício em drogas, trabalho, exercício, sexo, etc. Virtualmente qualquer coisa pode ser e é usada excessivamente em busca de satisfação numa sociedade em que sua característica é a negação da satisfação. Mas tal excesso ao menos fornece a evidencia do desejo por realização, o que é, uma imensa insatisfação com o que esta diante de nós.

Os charlatões fornecem todo tipo de escapismo, por exemplo. A panacéia New Age, um repugnante misticismo materialista em escala massiva: fraco e pensativo, aparentemente incapaz de investigar qualquer parte da realidade com coragem ou honestidade. Para os praticantes da New Age, psicologia não é nada mais do que uma ideologia e sociedade é irrelevante.

Entretanto, Bush (provavelmente Bush pai, N.do T.), avalia: "gerações nascendo entorpecidas no desespero", foi previsivelmente o suficiente asqueroso para culpar as vítimas citando seus "vazios de moral". A profundidade da estado de miséria deve ser melhor refletido pela informação federal divulgada em 19/09/91, sobre estudantes do ensino superior, que foi descoberto que ao menos 27% dos estudantes "pensaram seriamente" sobre suicídio no ano anterior.

Poderia ser que o social, com sua crescente evidência da alienação - depressão em massa, a recusa da alfabetização, o aumento das desordens psíquicas, etc. - deveria ser finalmente ser registrado politicamente. Tal fenômeno como o contínuo declínio da participação eleitoral (nos EUA o voto é facultativo) e a profunda descrença no governo levou a Kettering Foundation, em junho de 1991, a concluir que "a legitimidade de nossas instituições políticas é mais problemática do que nossos lideres imaginam", e em outubro do mesmo ano, um estudo de três estados (como noticiou o colunista Tom Wicker em 14/10/91) levou a perceber "um perigoso abismo entre os governantes e os governados".

 O desejo por uma vida e por um mundo não-mutilado no qual viver colide com um fato deprimente: é fundamental para o progresso da sociedade moderna a necessidade capitalista insaciável por crescimento e expansão. O colapso do capitalismo de estado na Europa Oriental e na União Soviética, deixou apenas a variedade "triunfante" do mesmo, no comando, mas agora confrontado insistentemente com contradições muito mais sérias do que as que supostamente venceu em sua pseudo-luta contra o "socialismo". Obviamente, o industrialismo soviético não foi qualitativamente diferente do que qualquer variante do capitalismo, e ainda mais importante, nenhum sistema de produção (divisão de trabalho, dominação da natureza, e escravismo trabalhe e pague em maiores ou menores doses) pode permitir a felicidade humana ou a sobrevivência ecológica.

Podemos ver agora uma vista aproximada de todo o mundo como um moribundo tóxico e sem ozônio. Quando uma vez a maioria das pessoas procuravam a tecnologia como uma promessa, agora sabemos com certeza que isto nos matará. Computadorização, com seu tédio congelado e veneno dissimulado, expressa a trajetória da sociedade, estruturada elegantemente aparte da existência sensual e encontrando sua apoteose atual na Realidade Virtual.

O escapismo da Realidade Virtual não é o maior problema, quem de nós poderia prosseguir sem escapes? Do mesmo modo, isto não é tanto uma diversão da consciência como é uma consciência de completo distanciamento do mundo natural. A Realidade virtual testemunha uma profunda patologia,
recordando as telas barrocas de Rubens que mostram cavalheiros com armaduras  rodeados, porém separados, de mulheres nuas. Aqui os tecnojunkies "alternativos" da Whole Earth Review, promotores pioneiros da Realidade Virtual, mostram suas verdadeiras cores. Um fetiche de "ferramentas", e uma total carência de interesse em criticar as direções da sociedade, direcionados a glorificação do paraíso artificial da Realidade Virtual.

O vazio consumista da simulação e manipulação de alta tecnologia deve seu domínio a duas tendências crescentes na sociedade, especialização do trabalho e o isolamento de indivíduos. Deste contexto emerge o mais terrível aspecto do mal: isto tende a ser comprometido por pessoas que não são particularmente más. A sociedade, que de nenhuma maneira poderia sobreviver a uma inspeção de consciência é preparada para prevenir tal inspeção.

As idéias dominantes e opressivas não permeiam totalmente a sociedade, ao invés, seu sucesso é garantido pela natureza fragmentada da oposição e elas. Entretanto, o que a sociedade teme mais é precisamente as mentiras que suspeitam sobre as quais ela esteja construída. Este medo ou recusa é obviamente não o mesmo como começa a expor uma força mortal de circunstâncias para as forças dos eventos.

Adorno notou na década de 1960 que a sociedade está crescendo mais e mais enganosa e incapacitada. Ele previu que as discussões eventuais das causas da sociedade poderia se tornar insignificantes: a própria sociedade é a causa. A luta por uma sociedade - se ainda pode ser chamada de sociedade - face-a-face, em e do mundo natural, deve ser baseada num entendimento da sociedade hoje como uma marcha fúnebre monolítica e expansiva.





Niceism (agradavel-ismo - simpatismo)
 Niceism. Tendência mais ou menos socialmente codificada, para se aproximar da realidade em termos de "caso outros se comportam cordialmente". Tirania do decoro do qual não permite o pensamento e atitudes individuais. Modo de interação baseado na ausência de julgamento crítico ou autônomo.


 Todos nós preferimos o que é amigável, sincero, prazeroso-agradável. Mas em um mundo arruinado de crise difundida e real, o qual estaria  fazendo com que todos nós radicalmente revisemos todas as coisas; o agradável pode ser o falso.

A face da dominação é por muitas vezes a de um sorriso, uma face culta. Auschwitz vem a mente, com seus administradores que desfrutam seu Goethe e Mozart. Similarmente, não foram monstros com caras de mal que construíram a bomba-Atomica, mas sim simpáticos liberais intelectuais.  Ditto com referência àqueles que têm uma vida computadorizada e aqueles que de outras maneiras são os mantedores principais dessa ordem apodrecedora,  como é o agradável homem-de-negócios (auto-orientado ou outra coisa) aquele que é a costela de uma existência cruel de trabalho-e-consumo através da dissimulação de seus horrores reais.

Casos de simpatismo incluem os “peaceniks”*, dos quais a ética de simpatia os colocam - repetidas e repetidas vezes e novamente situações estupidas e ritualizadas não-vencedoras, aqueles militantes da Earth First! (Terra em Primeiro!) que recusam confrontar a interamente repreensível ideologia no topo de sua organização e o Fifth State (Quinto Estado), das quais contribuições altamente importantes agora parecem estar em perigo de um eclipse pelo liberalismo. Todos as causas de assuntos-únicos, do ecologismo ao feminismo, e toda militância a seu serviço, são unicamente meios de evasão da necessidade de uma ruptura qualitativa com mais do que somente com os excessos do sistema.

O agradável como o inimigo perfeito do pensamento tático e analítico:  Seja uma pessoa que concorde; não deixe as idéias radicais criarem ondas de ressonância em seu comportamento pessoal. Aceite os métodos pré-embalados e os limites da estrangulação diária. Consentimento enraizado, a resposta condicionada para “jogue pelas regras”, regras da autoridade - é a real Fifth Column*, a que esta entre nós.

No contexto de uma vida social estraçalhada que demanda o drástico como a resposta mínima em relação a saúde, o simpatismo torna-se mais e mais infantil, conformista e perigoso. Não pode garantir prazer, somente mais rotina e isolamento. O prazer da autenticidade somente existe contra a moral da sociedade. O simpatismo nos deixa todos em nossos lugares, confusamente reproduzindo tudo que supostamente odiamos. Vamos parar de ser simpaticos com este pesadelo e com tudo que pode nos manter preso nele.

Notas:
* fifth column - grupo clandestino ou facção de agentes subversivos que tentam minar a solidariedade de uma nação de qualquer maneira. (Segundo enciclopédia Britannica)
* peaceniks - termo utilizado para designar pessoas que se opões a guerras e ações violentas realizadas por governos. Pacifistas.


Progresso
pro-gres-so: (arcaico) percurso oficial, guiado por regras. 2. desenvolvimento histórico no sentido do avanço ou aperfeiçoamento. 3. marcha, percurso adiantado da história ou civilização, como num show de horror ou uma viagem mortal.

Talvez nenhuma idéia na civilização ocidental tem sido tão importante quanto à noção de progresso, como Robert Nisbet colocou, “tudo agora sugere que a fé ocidental no dogma do progresso esta decaindo rapidamente em todos os níveis e esferas neste final do século XX".
No mileu anti-autoritarismo, também, progresso caiu em tempos difíceis. Houve um tempo em que os lideres sindicais,como seus companheiros próximos marxistas, poderiam mais ou menos discursar com sucesso por mais marginal e insignificante, os desinteressados em organizar suas alienações através de uniões, conselhos e similares. Ao invés do tradicional respeito pela produtividade e produção (pilares do progresso) um conceito ludita sobre as fabricas esta crescendo e o anti-trabalho um ponto de partida fundamental para o dialogo radical. Até mesmo vemos alguns tomando gato por lebre: os trabalhadores industriais do mundo presos pela segunda palavra (industrial) poderiam ir mais adiante, recusando a primeira (trabalhadores) certamente não como organização.

A crise ecológica é um claro fator em descrédito do progresso, porem como este dogma de fé foi por tanto tempo uma questão ignorada, esquecida. Ha algum significado no progresso, depois de tudo?
A sua promessa começou a ser notada, em vários aspectos, desde de o começo da historia. Com a ascensão da agricultura e o inicio da civilização, por exemplo, a destruição progressiva da natureza, extensas áreas do oriente médio, África e Grécia foram transformadas em áreas desertas.

Em termos de violência, a transformação do modo de vida pacífico e igualitário do coletor-caçador para a violência da agricultura/civilização foi rápida. "Vinganças, feudos, guerras e batalhas parecem ter emergido juntas, e típicas de povos domesticados", de acordo com Peter Wilson. E a violência certamente tem progredido ao longo do tempo, desnecessário dizer, das armas estatais de destruição em massa aos recentes assassinos em série.

A doença propriamente dita se encontra perto de ser associada à invenção da vida civilizada, cada doença degenerativa conhecida faz parte da armadilha do aprimoramento histórico. Da plenitude e vitalidade sensual da pré-história, ao presente cenário de doenças endêmicas e sofrimentos psicológicos massivos - mais progresso.

O ápice do progresso é a atual era da informação, que incorpora progressiva divisão de trabalho, de um tempo inicial de uma possibilidade de entendimento não mediado, ao estagio onde conhecimento se transforma meramente em um instrumento da totalidade repressiva, á corrente era cibernética onde dados são tudo o que resta. O progresso tem colocado significado de si próprio ao vôo.

A ciência, a imagem do progresso, tem encarcerado e interrogado a natureza, enquanto a tecnologia tem sentenciado a natureza (e a humanidade) ao trabalho forçado. Da divisão original do ser que é a civilização, passando pela separação cartesiana da mente dos restos dos objetos (incluindo o corpo) para nosso árido presente de alta tecnologia - um movimento de fato estranho. Dois séculos atrás, dos primeiros inventores dos maquinários industriais foram confrontados pelos trabalhadores têxteis ingleses sujeitos aos maquinários, e tiveram como vilão todos, menos seus patrões capitalistas. Os designers da escravidão computadorizada de hoje são respeitados como heróis culturais, embora uma certa oposição começa a crescer.

Na ausência de uma grande resistência, a lógica interna do desenvolvimento da sociedade de classes culminara, em seu ultimo estagio, em uma vida totalmente tecnificada. E relação do progresso da sociedade a da tecnologia é cada vez mais convergente. Walter benjamim, em sua ultima e melhor obra, teses sobre a filosofia da historia, expressa de modo lírico:

"Uma pintura de Klee chamada ‘angelus novus’ mostra um anjo como se estivesse para se afastar de algo que ele esta contemplando fixamente. Seus olhos observam com atenção, suas bocas estão abertas suas asas estendias. É assim que se ilustrou o anjo da historia. Sua face esta virada para o passado. Onde nós percebemos uma cadeia de eventos, ele vê somente uma catástrofe que amontoa ruína sobre ruína e arremessa a seus pés. O anjo gostaria de fica r acordar os mortos e refazer o que foi destruído, mas uma tempestade esta vindo do paraíso; e atingiu suas asas com tanta violência que o anjo não pode mais fecha-las. Esta tempestade o atira irresistivelmente para o futuro para o qual esta de costas, enquanto o amontoado de ruínas por de traz dele cresce para o céu. Esta tempestade é o que chamamos progresso”.


Tecnologia
 Tec-no-lo-gia. Segundo a definição do dicionário webster: ciência aplicada ou industrial. Na realidade: o conjunto da divisão de trabalho/produção/industrialismo e seu impacto sobre nós e a natureza. A tecnologia é a soma das mediações entre nós e o mundo natural , e a soma das separações mediando nós dos outros. É toda a exploração e toxidade necessária para produzir e reproduzir o estagio de hiper-alienação em que vivemos. É a textura e a forma de dominação em qualquer estágio de hierarquia e comercialização.

Aqueles que insistem em dizer que a tecnologia é "neutra", "meramente uma ferramenta" ainda não tem considerado o que esta em jogo. Junger, Adorno e Horkheimer, Ellul e muitos outros autores de décadas passadas - sem mencionar a toda esmagadora,  porem inevitável verdade da tecnologia em sua global e pessoal badalada - tem se dedicado a analisar o tópico. Trinta e cinco anos atrás o estimado filosofo Jasper escreveu que a "tecnologia é apenas um meio, em si mesma nem boa nem ruim. tudo depende do que o homem faz com ela, para quais propósitos servem ao homem, sob quais condições se utiliza". Sexismo arcaico aparte, esta crença superficial na especialização e no progresso técnico é visto cada vez mais como ridícula. Marcuse foi infinitamente mais ao alvo quando ele sugeriu em 1964 que "o exato conceito da razão tecnológica seja talvez ideológico, não apenas a aplicação da tecnologia, mas a tecnologia por si mesma é dominação ... controle calculado, calculador, metódico, cientifico".  Hoje experimentamos esse controle como uma constante diminuição de nosso contato com o mundo vivo, uma acelerada era da informação ostentada, drenada por computadorização e envenenada pela morte, imperialismo domesticador do método high-tech. Nunca antes as pessoas têm sido tão infantilizadas, feitas tão dependentes da maquina para tudo;  na medida em que a Terra se aproxima rapidamente de sua extinção devido a tecnologia, nossas almas são retraídas e e niveladas por seu controle penetrante. Qualquer senso de plenitude e liberdade pode apenas retornar pela abolição da massiva divisão de trabalho que está no coração do progresso tecnológico. Este é o projeto liberador em toda sua profundidade.

Obviamente, a literatura popular não reflete ainda uma atenta crítica do que é a tecnologia. Alguns trabalhos celebram completamente a direção que estamos tomando, por exemplo McCorduck em "Machines Who Think" (Maquinas que Pensam) e Simon em "Are Computers Alive" (Os Computadores Estão Vivos) para mencionar os piores. Outros livros ainda mais recentes parece oferecer um julgamento que finalmente se colocam frente a propaganda de massas pró- tecnologia, porém falham assombrosamente quando chegam as suas conclusões. Murphy, Mickunas e Pilotta editaram "The underside of High-Tech: Technology and the Deformation of Human Sensibilities" (O lado oposto da Alta tecnologia: Tecnologia e a deformação das sensibilidades humanas) cujo agressivo titulo é completamente destruído por um fim em que a tecnologia se tornara humana assim que mudarmos nossa arrogância sobre isto! Bastante similar é Siegel e Markoff em "The High Cost of High Tech" (O Alto Custo da Alta Tecnologia); Após capítulos detalhando os vários níveis de debilidade tecnológica, mais uma vez aprendemos que é tudo uma questão de atitude: "Devemos, enquanto uma sociedade, entender o total impacto da alta tecnologia se quisermos mudá-la para uma ferramenta para o engrandecimento do conforto, da liberdade e da paz humana". Este tipo de covardice e/ou desonestidade se deve, ao menos em parte, ao fato que os grandes grupos editoriais não desejam publicar idéias fundamentalmente radicais.

A observação acima adentro ao idealismo não é uma nova tática de fuga. Martin Heidegger, considerado por alguns o mais original e profundo pensador do século, Viu o indivíduo se tornar em mera matéria prima para a expansão ilimitada da tecnologia industrial. Incrivelmente, sua solução foi achar no movimento nazista o essencial "encontro entre a tecnologia global e o homem moderno". Por trás da retórica do Nacional Socialismo, desastrosamente, Foi apenas uma aceleração da técnica, inclusive a esfera do genocídio como um problema de produção. Para os nazis e o ingênuo, isto foi, novamente, um questão de como a tecnologia é entendida de maneira idealizada, não como ela realmente é.
Em 1940, o Inspetor Geral do Sistema Rodoviário Alemão resumiu assim: "A rocha e concreto são coisas materiais. O homem dá a estes forma e espírito. A tecnologia Nacional Socialista possui em todo material a realização do contentamento ideal".

O Bizarro caso de Heidegger deveria lembrar a todos que boas intenções podem ser precipitadamente desviadas sem uma disposição de encarar a tecnologia e sua natureza sistemática como parte de uma realidade social prática. Heidegger temeu as conseqüências políticas de realmente olhar a tecnologia de forma critica; Sua teorização apolítica tomou parte então do mais monstruoso acontecimento da modernidade, apesar de suas intenções.

O Erath First! (Terra em Primeiro!) clama colocar a natureza em primeiro, estar acima de toda "política"trivial. Mas poderia bem ser que a arrogância machista de Dave Foreman (e dos teóricos da "ecologia profunda" que também nos advertem contra o radicalismo) seja uma falta de coragem como a de Heidegger, e a conseqüência, provavelmente poderia ser similar.


Inteligência Artificial
A busca da Inteligência Artificial (IA) continua em direção ao momento ápice da Ciência e tecnologia. A conquista da IA marcaria uma mudança qualitativa nas ações, na cultura e na auto percepção da raça humana; O que enfatiza isso é o tempo que já faz desde que se iniciou esta busca.

Marvin Minsky descreveu o cérebro como um computador feito de carne , uma visão que ecoa entre os teóricos da IA, tal como os Churchills. O computador serve constantemente como metáfora para a mente ou cérebro humano, tanto que tendemos a ver a nós mesmos como uma máquina pensante. Note a quantidade de termos mecânicos que se infiltraram no vocabulário comum do conhecimento humano.

Esta é a total seqüência da produção de massa, com seu linearismo e homogeneização, carregando adiante o modo da máquina, em direção ao não individuo, ao não sensual, e sempre distante do sentido de natural e de plenitude. Com o movimento da IA (e da robótica) o humano se torna não essencial.

A metáfora do computador, que entende a mente como uma máquina processadora de informações e manipuladora de símbolos, determinou a aparição de uma psicologia que procura nas máquinas seus conceitos fundamentais. A psicologia cognitiva se baseia em orientações e informações de teorias matemáticas e na ciência computacional. Certamente o campo da IA é agora co-extensivo com o campo da psicologia cognitiva e filosofia da mente. O modelo informático abarca desde as disciplinas acadêmicas até o uso cotidiano.

Em 1981 Aaron Sloman e Monica Croucher escreviam "Porquê os robôs terão emoções", e em dezembro de 1983 o Psychology Today dedicada à "Máquina Sentimental", um tributo claro às promessas da Inteligência Artificial. Na Scientific American de janeiro de 1990, John Searle pergunta: "É a mente um programa de computador no cérebro?", enquanto que Patricia Smith Churchill e Paul Churchill fazem a pergunta regra: "Pode uma máquina pensar?". As possíveis respostas são, ao meu entender, insignificantes frente a presença de tais perguntas.

A trinta anos Adorno poderia ver prontamente a diminuição e deformação contemporânea do indivíduo nas mãos da alta tecnologia e seu impacto sobre o pensamento crítico "O computador, cujo quer fazer o pensamento seu próprio equivalente e que sua grande gloria seria se autoeliminar - a petição falida da consciência ".Mesmo antes, (1950) Alan Juring previu que pelo ano de 2000 o “uso das palavras e a opinião geral terão alterado tanto que uma pessoa poderá falar habilmente sobre pensamento das máquinas", sem medo de contradições. Seu prognóstico claramente não trata da situação das máquinas, mas trata do futuro ethos dominante.

A crescente alienação traz uma mudança completa em relação a subjetividade total, o que ultimamente inclui uma redefinição do que significa ser humano.  Finalmente, é possível, que mesmo as "emoções" de computadores sejam reconhecidas e confundidas com o que foi deixado de sensibilidade humana.

Entretanto, a simulação por computador do físico Steven Wolfram, pretensiosamente reproduz o que ocorre livremente em processos físicos, levando a uma suspeita conclusão de que a natureza em sí mesma é um vasto computador. Em um plano mais tangível, se não sinistro, é o esforço em criar uma vida sintética via simulações de computador, o progresso que foi a grande notícia da Segunda Conferencia Sobre I.A em Santa Fé em Fevereiro de 1990. O que significa estar vivo também está passando por uma redefinição cultural.
De forma relacionada, outro maravilhoso desenvolvimento é o Projeto Genoma Humano do Instituto Nacional de Saúde, Uma tentativa de 3 Bilhões de dólares do governo em decifrar as três bilhões de dígitos de seqüência genética que codifica o desenvolvimento humano.
O Projeto Genoma é ainda outro exemplo do paradigma desumanizante que está nos tragando: Um prêmio Nobel tem defendido que conhecer toda a seqüência nos dirá o que o ser humano realmente é.Adicionado a este horrível reducionismo, o panorama potencial, o projeto abre caminho para a engenharia genética.

A neurociência computadorizada, ligada a IA, é colocada em direção a uma interface do artificial e do humano num nível neurológico profundo. A tendência, caso desimpedida, propõem nada menos do que a ciberorganização dos espaços, incluindo mudanças genéticas permanentes em nós mesmos.
Em 5 de fevereiro, 1990, na Forbes, David Churchbuck escreveu " O Ultimo Jogo de Computador: Por Que Estar Na Realidade Se Você Pode Viver Num Sonho Seguro, Econômico e Fácil de Manipular? Os Computadores Em Breve Farão Tal Mundo Possível ". Seu longo subtítulo se refere ao advento dos jogos de "ciberespaço" que simulam ambientes completos, um importante passo dos vídeos games!
Verdadeiramente um testemunho à crescente passividade e isolação num mundo artificial e vazio.

Aqueles que ainda enxergam a tecnologia como algo "neutro", como uma mera "ferramenta" que existe aparte dos valores e sistemas sociais dominantes estão criminalmente cegos ao ímpeto anulador de uma cultura de morte.


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