O Caminho Adiante

Sem uma nova estrutura, ou uma visão diferente da dos fracassados e limitados esforços do passado, não haverá possibilidade de desafiar o todo-envolvente ecocídio, a desumanização, e a destruição que são tão desenfreados actualmente. Todos sabem que a vela está oscilando, que a crise generalizada continua a  espalhar-se e a aprofundar-se. Os seus parentes conservadores sabem que tudo está desmoronando. Esta condição assustadora e sem precedentes deve ser desafiada na sua totalidade e nas suas raízes. Existe cada vez menos interesse em abordagens parciais, e por uma boa razão: abordagens parciais apenas garantem que as coisas continuem cada vez pior.

Tem ocorrido para um número crescente de pessoas, em vários lugares, que olhar para uma saída necessariamente envolve atacar a exacta natureza da sociedade. Não somente o capitalismo, mas a sociedade de massas e a sua forma cada vez mais tecnificada, com as suas raízes na civilização. Certamente algumas pessoas têm tomado agora uma retórica anti-civilização, ao mesmo tempo que evitam a sua essência. Recentemente eu li em uma mensagem na Internet que começava com "eu sou anti-civilização, mas ..." Este indivíduo listou coisas que ele/ela condenava, porém, nenhuma dessas coisas estavam definindo os aspectos da civilização (domesticação, cidades). Com este tipo de manobra o jargão muda, e nada mais. Por exemplo, alguém poderia continuar aceitando o marxismo, com todas as suas limitações, e ainda sim, por alguma razão, adoptar o rótulo anti-civilização. Tal mal uso de termos é comum; por exemplo, Noam Chomsky - um mero progressista - é referido como um anarquista.

Obviamente é o marxismo, em geral, que é o continuo refúgio para aqueles que não podem encarar a realidade, e ainda alegam que se opõem radicalmente a essa realidade. O marxismo, que não tem sido uma visão inspiradora desde a I Guerra Mundial. O Marxismo, que proporciona um conforto caso a visão do mundo seja limitada - conforto se o Século XIX for o contexto (e mesmo assim, certamente inadequado).

Uma quantidade de potencial libertador seria incorporado no final da esquerda, isto é muito claro. Embora tão amplamente, senão universalmente desacreditada, a esquerda trabalha para manter um horizonte que é criticamente resumido. A visão da esquerda é limitada por um par de cegueiras: a recusa em questionar a produção em massa e a tecnofilia. Quando aqueles que se identificam como pós-esquerdistas provam isto tomando elementos cardinais como as "teses", o termo começará a ter substância.

Generalidades, como a retórica, servem principalmente para mascarar uma falha de conteúdo. Heidegger falou infinitamente da autenticidade e foi um nazi; Sartre focou na liberdade e foi um estalinista. Se a filosofia é a reflexão de um modo geral, a política comete o mesmo erro, e muitas vezes com os piores motivos. Só a especificação e o concreto transmitem um real significado, e jogam com as consequências das intenções e responsabilidades pessoais. Uma recusa em ser especifico pode ser tido como a marca do político. "Anti-civilização" e/ou "Pós-esquerda" deve ser mais do que rótulos, jargões vazios.

Se uma tarefa prática é a rasura do que resta da esquerda, um igualmente passo é mais longe, exploração e questionamento sem limites. Precisamos problematizar, não assumir ou tomar por certo, cada componente e instituição da marcha mortal da civilização.

Superar obstáculos deve ser acompanhado por um aprimoramento na busca de modos para evoluir. Isto é, as alternativas, os meios para deixar a embarcação decadente. O espectro de outras maneiras de viver deve ser absolutamente essencial, caso, se expressões como "autonomia" e "re-conexão com a Terra" venham a carregar a importância que irá brevemente ser colocada sobre nós. Habilidades que não assumem a continuação da decadente e infantilizadora modernidade, mas ao contrario, são habilidades necessárias para abandonar isto. Habilidades ligadas à terra, paisagens comestíveis, tantas maneiras de aprender e explorar. Habilidades que maximizam a plenitude e anti-mediação individual, e que são chaves para compartilhar a visão da anti-civilização. Um convite em termos reais, sem o qual apenas palavras acontecem. Mesmo se os passageiros percebem que o jacto está a inclinar-se directamente ao chão, eles ainda não estão certos de saltar pela janela.

O reino do espiritual chama, porque assim deve ser - ou deveria ser - com elementos básicos. A nossa vida-mundo desincorporado tem perdido lugar na existência. Já não nos olhamos como parte da teia e dos ciclos da Natureza. A perda de uma relação directa com o mundo tem bloqueado um antigo entendimento universal da nossa singularidade com o mundo natural. Os princípios da ligação e da simplicidade são o coração do conhecimento indígena: intimidade tradicional com a terra como uma imanente base da espiritualidade. Este entendimento é uma essencial e insubstituível fundação da saúde e do significativo. Esta linha de vida é inestimável. O seu eco é ouvido em comentários de que a anarquia verde está na base de um movimento espiritual, o qual deve colocar a mudança mundial em repercussão. Isto é algo muito atraente para eles - e misterioso para mim. Eu tenho que dizer que esta esfera é intrigante, e aberta para mim. Mas parece bom sentir que algo está a acontecer e admitir isso.

Producionismo ou futuro primitivo, duas materialidades. Um provocado pela extinção do espírito, o outro por abraçar o espírito e a sua realidade baseada na Terra. O abandono voluntário do modo de vida industrial não é auto-renuncia, mas um retorno de cura. Voltando deste presente estado e direcção do mundo, vamos procurar por inspiração daqueles que têm continuado a viver espiritualmente com a Natureza. Os seus exemplos mostram o que precisamos fazer da nossa maneira para o que ainda nos espera, ao nosso redor.

Tácticas podem ter muitas fontes úteis. Supremo é a recusa da total desordem colapsante e a resistência contra todos aqueles que trabalham para nos manter emaranhados nisto.

Por John Zerzan

Sem comentários:

Enviar um comentário